sexta-feira, 22 de junho de 2018

Propaganda e lavagem cerebral

Ao fazer zapping entre os canais portugueses, ouvi um educador, não da classe operária mas da classe urbana, "explicar" o problema dos refugiados / imigrantes. Dizia ele que havia muita gente que não queria os imigrantes porque temia que eles lhes fossem retirar os trabalhos, ideia completamente falsa. Nesse sentido, importava (continuou) que os governos e as ONG's trabalhassem com os media de forma a "esclarecer" as pessoas e promover o "debate". 

Ou seja, a solução que o doutrinador preconiza para o problema da opinião "errada" de partes substanciais da população é controlar completamente a mensagem, fundindo o poder político com os meios de comunicação social. Estes, ao invés de ser o contra-poder que nas sociedades ocidentais se convencionou ser o seu papel, em nome do equilíbrio e do controle e fiscalização do Estado e dos políticos, deveriam então passar a ser um instrumento e um fantoche do poder político, uma correia de transmissão das suas mensagens. Nem a mistura de ONG's com "OG's" pareceu ao especialista algo de desaconselhável.

Isto seria chocante se não fosse já trivial nos nossos dias. Os jornalistas-activistas não são a excepção mas a regra. Eles consideram-se os guardiões de uma moral social implícita (mas indiscutível), de um modelo de sociedade e valores padrão que não podem ser contestados. Nessa medida, ao invés de reportarem aquilo que realmente acontece e se reveste de importância, seleccionam os factos mais convenientes para alimentar uma narrativa pré-definida, elevando-os ao topo da suposta actualidade. Ou seja, obedecem a uma agenda política.

Existem naturalmente aqueles que entendem o que estão a fazer e que sabem conduzir as coisas nesse sentido, como existem outros que são simplesmente instrumentalizados sem nunca o perceberem. Os comunistas têm uma enorme experiência de controle da mensagem nos media, não apenas nos regimes ultra repressivos das suas ditaduras, mas também nos países nos quais estão fora do poder. Em Portugal antes das primeiras eleições todos estavam convencidos de que o PCP iria ganhar tal a sua preponderância no espaço público que criava (intencionalmente) a percepção de que todos eram comunistas. Os resultados foram uma enorme surpresa.

Muitos consumidores de "informação", senão a maioria, não tendo capacidade crítica nem de discernimento do real do propagandístico, reagem exactamente como desejado e previsto por quem arquitecta as campanhas e estabelece as agendas. O "indignado" consumidor de informação, muito convencido de que está a demonstrar uma grande consciência cívica e a contestar os poderes instalados, não percebe que está a ser induzido e conduzido como se fosse um acéfalo ou estivesse sob hipnose. Com base em informações prestadas por partes interessadas (como ficou demonstrado que os media são), sem conhecer minimamente a realidade da situação concreta e sem exercer o mínimo juízo crítico, o cidadão comum parte para a "indignação", repetindo slogans e chavões, não apenas não percebendo que está a ser instrumentalizado mas até sentindo-se orgulhoso pela sua postura, pela sua "consciência cívica"! Isto quando reage de forma quase pavloviana...

O "debate" público, especialmente em Portugal, não apenas é completamente desprovido de interesse mas ele assenta normalmente sobre coisa nenhuma. Discutem-se "conceitos" abstractos que não correspondem a nada de verdadeiramente substancial ou palpável. É uma realidade puramente verbal, mais emocional do que ideológica que não tem correspondência com nenhuma realidade concreta. Aquela que mais serve à progressão de uma determinada agenda. Os verdadeiros problemas ficam escondidos e fora do discurso, tendo-se criado todas as distrações e empecilhos lógicos à sua correcta formulação.

Mas o problema não é nacional. Pelo contrário, os nossos media - e o que é preocupante é que com uma incidência cada vez maior - servem apenas de correias de transmissão de "ideias" e de "sentimentos" com os quais se alimenta a população. Se esta não fôr capaz de discernir, já não digo o o verdadeiro do falso mas, pelo menos, o factual do opinativo, está condenada a passar por este mundo num estado de semi-sonambulismo. E, se permitir a lavagem cerebral completa, não apenas a não se oporá mas participará até activamente em aberrações sociais.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Notícias da frente ocidental

Nos EUA há uma guerra sem quartel pelo poder desde que Trump surpreendeu o mundo ao vencer as eleições.

O stablishment nunca pensou que tal pudesse acontecer mas a verdade é que Trump foi trucidando a oposição republicana até chegar à nomeação. Ao escolher Clinton, candidata cheia de fragilidades e casos mal explicados, o partido Democrata colocou-se a jeito.

A noite eleitoral começou com as imagens do cortejo triunfante Clinton de casa para a sua sede de campanha e o anúncio do programa das festas - mas acabou como se sabe. A saída de cena da candidata, feita longe das câmaras e sem uma concessão de derrota (estaria lavada em lágrimas pela derrota, diz-se), foi o culminar de uma campanha desastrosa.

A guerra Trump vs. stablishment tem desde então sido impiedosa. A ideia de que existe um deep state, impermeável a eleições, que está desde o primeiro minuto a combater Trump, inicialmente desacreditada como a fantasia de teóricos da conspiração, tem vindo paulatinamente a ser validada pelos acontecimentos. Do lado oposto a tese principal nesta batalha informativa e de propaganda é a de que Trump é um agente russo controlado por Putin, essa sim, bem mais inverosímil.

O conceito de um deep state consiste na existência de esferas de poder oculto e não eleito dentro do aparelho do Estado, nomeadamente nos serviços de informações (CIA) e militares. Um dos argumentos mais fortes em favor da sua realidade consiste no aviso de Dwight (Ike) Eisenhower, comandante supremo das Forças Aliadas durante a II Guerra Mundial e posteriormente presidente dos EUA. No seu discurso de despedida, Ike alertou para o perigo dos destinos da nação poderem ser excessivamente influenciados pelo "complexo militar-industrial". Sendo ele próprio um militar, o aviso reveste-se de particular autoridade. 

Com a eleição de Trump, a resistência, activa e passiva, às suas políticas e as sucessivas fugas de informação de dentro da Casa Branca, a questão do deep state apareceu na agenda política. Mais recentemente o caso da investigação a Trump durante a campanha também levantou muitas questões. Trump acusou mesmo Obama de estar envolvido naquilo que classifica de espionagem contra si mas o FBI defende-se falando em procedimentos correctos, algo que mereceu a concordância de alguns republicanos destacados (mas não todos), nomeadamente Paul Ryan, o speaker da Câmara dos Representantes. A questão é que Paul Ryan é ele mesmo parte não exactamente do deep state mas certamente do stablishment e tem sido mais um opositor do que apoiante deste presidente que claramente veio abanar o status quo e os consensos instalados.

Do outro lado Mueller continua a sua inefável e infindável investigação à "interferência russa" nas eleições presidenciais. A investigação leva neste momento mais de um ano, produzindo até agora nada de nada. Um dos seus pontos altos foi "provar" que um conselheiro de Trump mentira quando, questionado sobre reuniões secretas com russos, não referiu um encontro circunstancial com o Embaixador daquele país em Washington. O tema Rússia é aliás também muito querido na Europa: segundo os seus maiores entusiastas, os russos controlam e manipulam as opiniões públicas dos países ocidentais interferindo nas eleições (provavelmente "obrigando" os eleitores a votar em candidatos populistas...).

O que podemos concluir de tudo isto? Independentemente de uma leitura mais global de tudo o que se vem passando e dos diferentes alinhamentos e forças em jogo, é claro que estamos em plena guerra de informação e desinformação. É claro que não há inocentes neste jogo e que ambos os lados fazem uso de meios legítimos e ilegítimos de propagar a sua mensagem e agenda. Certamente que Putin não é nenhum arcanjo dedicado apenas à propagação da verdade e do bem. No entanto parece-me também certo que há um desfasamento na Europa entre as élites políticas e a respetiva agenda e os interesses das populações. Foi também isso que aconteceu nos EUA, com o stablishment (apoiado nos média) a querer impôr uma candidata e uma agenda altamente impopulares e desligadas dos problemas reais das pessoas. 

Por isso se a Rússia explora este desfasamento em benefício próprio, é porque a nossa casa não está arrumada. Talvez se devesse então procurar a origem do problema ao invés de nos centrarmos nos seus sintomas.



Veja também O complexo industrial militar.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Teorias da conspiração

O tema já cansa, é verdade mas a necessidade de sanidade mental por vezes obriga-nos a recapitular os factos para nos conseguirmos subtrair à voragem das narrativas "oficiais".

Donald Trump já mostrou diversas fragilidades de carácter e cometeu alguns erros bastante graves. Atentemos porém ao que se passou imediatamente antes da sua eleição e nos meses seguintes até ao dia de hoje.

1. Poucas semanas antes da eleição foram divulgadas conversas privadas, que nada tinham que ver com a campanha, nas quais Trump fazia comentários brejeiros sobre as mulheres. As conversas tinham sido gravadas às escondidas, anos antes.

2. Toda a comunicação social garantia que Trump não tinha qualquer hipótese de vencer.

3. Na noite das eleições as televisões americanas mostraram em directo o cortejo de Hillary Clinton, ao abandonar a sua residência em direcção à sede de campanha, como se de uma marcha triunfal se tratasse.

4. Nessa mesma noite, depois de se tornar evidente que Trump ia ser eleito, durante mais de uma hora deixaram de ser apresentados resultados, os quais "oficializariam" essa vitória. Durante esse tempo as contagens de votos dos Estados ainda em aberto permaneceram na casa dos 90 %, com Trump à frente mas sem ser declarado vencedor, e nada se passou.

5. Anunciados os resultados, logo de imediato se começou a falar do cenário dos delegados do colégio eleitoral alegadamente se recusarem a votar Trump. Essa narrativa durou algumas semanas mas no fim Clinton "perdeu" mais delegados do que Trump.

6. Eleito Trump iniciou-se outra estória que prometia impedir a sua eleição: a recontagem de votos, solicitada por uma candidata que tinha tido 1 % dos votos, por alegadas "irregularidades". A recontagem parou quando os números começaram a ser ainda mais favoráveis a Trump do que os resultados iniciais.

7. Depois começaram as manifestações violentas, o "Not my president" e o "resist".

8. Ao mesmo tempo iniciou-se a estória da "interferência" russa, do "conluio" com os russos e da "obstrução à justiça". Um ano depois nada de substantivo foi apresentado. As investigações estarão agora, de acordo com os media que se opõem a Trump, especialmente a CNN, o New York Times e o Washington Post, a incidir também sobre actividades financeiras de Trump, seus familiares ou associados, com cidadãos russos e agora também ucranianos, mesmo antes da campanha e sem relação qualquer com ela. Segundo esta mesma imprensa, o "cerco vai-se apertando".

9. Alguém desconfiado e dado a teorias da conspiração poderia ser levado a crer que o "deep state" americano (o poder não eleito nos EUA), aliado ao sistema de poder internacional globalista estava por todos os meios a tentar reverter uma eleição democrática por o vencedor não fazer parte desse sistema e colocar em causa certas "verdades" universais e inquestionáveis nos nossos dias. Isso não passaria porém certamente de uma congeminação de uma mente delirante e dada a tese paranóicas. O importante é comer e calar.